quinta-feira, 9 de abril de 2015

Universo: The Sopranos X Breaking Bad




The Sopranos e Breaking Bad são as duas maiores séries de TV, nessa que está sendo chamada de a Terceira Era de Ouro da TV. Poucos vão questionar isso.

Mas, se você perguntar para pessoas que assistiram as duas séries qual delas é melhor, é provável que você ouça um longo suspiro antes de uma opinião definitiva. Talvez essa opinião nunca chegue.

Agora que as duas acabaram e já se passou um período que nos permite tomar algum distanciamento, pode ser que pensar sobre elas, se não nos levar a tal veredicto, pelo menos nos faça compreender pontos de semelhança e divergência entre elas.

Resolvi divagar sobre os universos de The Sopranos e Breaking Bad. Em termos de formalidade, as duas são bem parecidas. Ambas, trabalham com dois mundos que se confrontam: a realidade do homem americano médio e a vida obscura no crime.

Embora Tony esteja bem mais familiarizado do que Walter com este ambiente, os dois enfrentam uma série de conflitos cada vez que se aprofundam mais na vida de foras da lei. Além do mais, caminhar entre uma vida criminosa e a rotina comum traz um elemento fundamental para essas séries atuais: um universo onde o personagem tenha grande possibilidade de fazer escolhas erradas. Este é um dos pontos de partida para construir uma história onde a jornada do herói não esteja baseada em sua capacidade de conseguir alcançar seus objetivos, mas na chance de ele tomar um caminho duvidoso.

Tony e Walter são personagens absolutamente diferentes. Isto vale outro post. Mas as premissas dos universos das duas séries também são antagônicas.

Em Breaking Bad, toda atitude tem uma conseqüência. Isso faz sentido já que a Química é um dos principais elementos da série. Toda ação causa uma reação inversa. Em Breaking Bad, deus existe. E não estou falando de um senhor barbudo que resolveu punir Walter por ele ter sido mau. Existe uma questão religiosa na série em termos de moralidade. O certo e o errado existem em Breaking Bad. Walter White precisa fazer uma série de escolhas erradas para se tornar Heisenberg. E ele não vai passar impune por isso. Ele mesmo avisa isso a Skyler na reta final de sua trajetória.

Podemos discutir por horas o porquê de Vince Gilligan ter construído essa dinâmica. Essencialmente, eu acredito que esse movimento faz com que você aceite ver um cara bonzinho e oprimido se tornando um opressor violento. Walter escolhe o tempo inteiro entre o certo e o errado. Eventualmente ele escolhe mais errado do que certo.



Tony Soprano vive um mundo diferente. Na série de David Chase, não existe certo e errado. Por isso você nunca sabe quando as coisas vão se complicar ou quando elas simplesmente vão sumir com o vento. Isso transforma a dinâmica da história em algo imprevisível para o espectador, fazendo com que ele não queira perder um segundo do que está na tela.

Tony é um mafioso, seu pai era um mafioso. Matar alguém não é um problema maior do que lidar com a mãe manipuladora. Tony não precisa escolher entre ser uma pessoa boa (no sentido moral), ou ser uma pessoa ruim. Ele já é ruim. As escolhas de Tony são entre fazer o que é o mais fácil e o que é o mais difícil. Isso também fala direto conosco. Todos os dias nós escolhemos entre, por exemplo, almoçar o mais fácil (um massa com molho bem gorduroso), ou o mais difícil (uma salada fresca e saudável).



Walter White está sujeito a um Deus ex machina constantemente, com o universo respondendo a cada passo que ele dá para ser tornar Heisenberg. Mesmo assim ele escolhe continuar. Não mais porque precisa deixar sua família abastecida de grana depois que ele morrer de câncer. Ele deixa isso bem claro logo na primeira temporada. Ele está fazendo aquilo porque ele quer. Tony Soprano nasceu na Mafia e gosta disso. Tony não precisa escolher se vai fazer o certo o errado. Ele tem que escolher entre o que é melhor para ele e o que pode vir incomoda-lo. Ao longo da série, Tony ignora cada vez mais as reações aos seus atos.

Se em Breaking Bad o diálogo com o espectador vem a partir de uma moral estabelecida onde o bom que se torna mau é punido, em The Sopranos somos tocados por entender que, bom ou mau, somos todos iguais em nossas angústias.


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